Refletindo acerca de tantas mudanças que essa quarentena nos trouxe, uma delas foi a volta para a nossa casa, afinal com a quarentena, muita gente teve que fazer da sua casa, o seu trabalho, lazer, e por fim, o seu lar. Mas olhando por outro lado, tenho percebido muitas mudanças no âmbito emocional. Além de tantos sintomas negativos que a quarentena nos trouxe, ela também trouxe algo inédito… Se fez necessário abrir as portas e as janelas da nossa casa interna… Ela chegou, e escancarou nossos maiores medos, fez as portas baterem, fez o tapete levantar e mostrar o acúmulo de sujeira que estava lá.
Trazendo para um sentido figurado, de que a casa representa a nossa morada interna, onde ficam guardados nossos bens mais preciosos, como também, aquele quartinho da bagunça, onde tudo que não combina ou que não tem espaço na grande casa, vai pra lá. E muitas vezes ficam coisas de anos, coisas que nem lembrávamos que existia, coisas que não queríamos mais, mas que ficou, ou coisas que guardamos com tanto carinho para um dia usar, mas por falta de tempo ou de dedicação, nunca pudemos usar. E todas essas “coisas” podem ser traduzidas por: sentimentos não resolvidos, angústias, mágoas, tristeza, amor, carinho, lembranças. Tudo que nos envolve, e nos faz ser que somos. Porque por mais que o quartinho seja um lugar muito pequeno da nossa grande casa, ele ainda faz parte desse grande todo, e por mais pequeno e insignificante que pareça ser, ele também é parte de algo em nós…
Habitar a nossa casa interna, significa, acolher todos esses “cômodos” que estão dentro de nós. E ver que por mais que exista um quartinho da bagunça, que precisa de atenção, e dias de limpeza, existe também um jardim maravilhoso, cheio de flores, e árvores, que dão base e sustentação pra todo o resto.
Quando conseguimos perceber, esse grande todo que nos habita, o bom, e o ruim, o alegre e o triste, o medo e a coragem, percebemos que tudo existe dentro de nós. Quando acolhemos quem verdadeiramente somos, damos espaço, para reconhecer nossas falhas, para limpar nossas feridas, para alimentar nossas fortalezas.
E assim como a pandemia nos fez escancarar grande medos, ela também escancarou grandes verdades sobre quem nós somos. E seria uma pena deixar essa oportunidade única passar…
Nicole Valentini
Psicóloga da infância e da família